Oscar Krost – Juiz do Trabalho (TRT12)
“A história de opressão das mulheres não será transformada apenas com medidas legislativas […]” (p. 276)
Há força e relevância em cada palavra que compõe o trecho transcrito. Uma delas, no entanto, se destaca, por sintetizar o cerne da obra de Ana Paula Sefrin Saladini: APENAS.
“O trabalho invisível de cuidado: pobreza de tempo e equidade de gênero” (Brasília: Editora Venturoli, 2024, 307p) é pesquisa acadêmica, em nível de doutoramento (UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná), mas não apenas.
É fruto de reflexão crítica, feminista, jurídica, política e social, de autoria de uma mulher que, além de mãe, desempenha papéis de poder, como Juíza e Professora, mas não apenas.
Dialoga com temas espinhosos, como interseccionalidade, divisão sexual do trabalho, parentalidade, discriminação e pobreza de tempo, mas não apenas.
Examina fontes normativas nacionais e internacionais e destrincha estereótipos e falsos mecanismos de proteção da mulher, mas não apenas.
A cada capítulo, acreditamos ter chegado à raiz de cada uma das mazelas que subjugam o feminino, mas Ana Paula surpreende ao apresentar mais variáveis e possibilidades, sempre acompanhadas de alternativas viáveis em prol da mudança. Os enfrentamentos propostos têm caráter coletivo, público e privado, além do protagonismo de homens, mulheres e demais atores sociais.
As teses Incluem, agregam, re-unem.
Ao cabo dos 10 capítulos do livro, alcança-se o entendimento de que o problema da mulher não diz respeito somente a ela, por ela apenas começando. A discriminação de gênero, o trabalho reprodutivo não remunerado e a maternidade como vocação natural impactam prejudicialmente no PIB nacional, na estruturação da família, na vida dos homens, na função social empresas e, até mesmo, no futuro da vida no planeta.
E por mais incrível que possa parecer, Saladini se expressa de maneira fluida e suave. Não bastasse o zelo com que trata o conteúdo, não descuida, por uma linha sequer, da forma, estética e estilo, em incessante preocupação com o bem-estar do público leitor.
Embora para a Doutora Ana Paula Sefrin Saladini já “passou da hora de dar início às mudanças” (p. 278), ao se referir ao enfrentamento do quadro discriminatório que oprime as mulheres em todo o mundo, o mesmo não se aplica em relação à leitura de “O trabalho invisível de cuidado: pobreza de tempo e equidade de gênero”, obra essencial em qualquer etapa, nível e momento da vida ou da carreira jurídica.
Enfim, sem mais, tenham todas e todos ótimas leituras!
